A Arte que transforma
O Projeto TRILHAR A ARTE QUE TRANSFORMA leva o público a percorrer os caminhos por onde a arte transforma
os vários elementos da terra em obras de extrema beleza plástica (fine art) e a tomar contato com
processos que transmitem a sustentabilidade (Economia Criativa).
Não por acaso, a arte é tomada como fator paradigmático no Trilhar, pois em todas as suas diferentes
formas de expressão, nos ajuda a elaborar o pensar; a construir e ressignificar coisas, objetos e
sentimentos. Exercita a nossa imaginação e nos atenta para a importância da nossa história e memória
para viver em sociedade.
Sobre a CTG Brasil
A CTG Brasil trabalha para desenvolver o mundo com energia limpa em larga escala. Segunda maior geradora privada de energia do país, conta com a dedicação de seus talentos locais e está comprometida em contribuir com a matriz energética brasileira, pautada por responsabilidade social e respeito ao meio ambiente. A empresa tem investimentos em 17 usinas hidrelétricas e 11 parques eólicos, com capacidade instalada total de 8,3 GW. Criada em 2013, é parte da China Three Gorges Corporation, uma das líderes globais em geração de energia limpa.
Rubens Fernandes Junior
AS ÁGUAS DE ARAQUÉM ALCÂNTARA
"A água de boa qualidade é como a saúde ou a liberdade: só tem valor quando acabam."
- Guimarães Rosa
Água é movimento, fluxos desencontrados, vida. Sabemos que a Lua cheia provoca marés altas, pesca farta, águas agitadas e impacientes. Ciclos que se repetem e mantêm a efervescência da natureza. Impossível não pensar na associação natureza e cultura diante das imagens nas fotografias de Araquém Alcântara.
No Brasil contemporâneo, há várias décadas, acompanhamos seu trabalho, de um
artista “errante navegante” que atravessa
o país incansavelmente em busca da beleza. Seu olhar está centrado na documentação da natureza e sua devastação. Pioneiro na fotografia ambiental brasileira,
é o único profissional que registrou todos
os parques nacionais. Uma militância que
possibilitou a organização de um rico arquivo com milhares de imagens e a publicação de 59 livros dedicados ao tema.
O conjunto de fotografias aqui apresentado tem em comum a presença da água,
exibida em situações tão distintas que surpreendem os mais desavisados. O caiçara,
o pantaneiro, o caipira, os povos indígenas, o gaúcho, entre tanta diversidade social e cultural, estabelecem uma conexão
afetuosa, ou melhor, quase religiosa com
o meio ambiente. E, para variar, nem sempre nos damos conta disso. Talvez porque
a água seja farta nas diferentes regiões do
país, talvez por falta de interesse, ou até
por ignorância mesmo.
Em 12 de abril de 1961, o cosmonauta russo
Yuri Gagarin, primeiro homem a viajar pelo
espaço, a bordo da nave Vostok 1, afirmou
que “A terra é azul. Como é maravilhosa”,
evidenciando, a distância, que os 70% da
superfície terrestre coberta pela água, na
verdade, reflete a cor do céu e transforma
a Terra numa imensa esfera azul. Dos 70%
de água, apenas 3% são apropriados ao
consumo, e o restante é a água salgada
dos mares e oceanos. E para conhecimento de todos, dos 3% disponíveis, 2% estão
nas geleiras. Portanto, nossa água potável
é mínima para saciar a sede do planeta
Terra. E mesmo assim, inexplicavelmente,
não valorizamos sua importância para a
sobrevivência humana.
O Brasil, sabemos, é um território privilegiado, pois reunimos em nossos rios, lagos e águas subterrâneas, mais de 11% do total acima registrado. Mas também sabemos que é uma falsa abundância, já que a distribuição é bastante desigual – muita água na região Norte, menos nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, sendo a região Nordeste a mais carente de todas.
Daí a importância dessa exposição, que reúne situações variadas em que a presença da água é exibida em diversas situações.
O sentido de tudo isso? É conscientizar
todos os visitantes da relevância da água
em nossas vidas e, ao mesmo tempo, despertar uma reflexão política cada vez mais
necessária para nossa existência futura.
Queremos com essa experiência visual valorizar nossa ligação com a natureza. E por
que será que nos afastamos tanto dela?
Araquém Alcântara nos apresenta uma
compreensão da biodiversidade do nosso país longe de quaisquer artifícios de
imagem idealizada. Ele mostra o que realmente seus olhos veem, traz uma
visão desconcertante e apaixonada
da potência das forças da natureza
e seus pares, homens e animais, que
habitam nossos parques. Um olhar
sensível, de profundo respeito e admiração espiritual, que exige imersão e
contemplação.
Nas fotografias aéreas, por exemplo,
as linhas sinuosas percorridas pelos
rios hipnotizam nosso olhar. Araquém
exerce sua cidadania produzindo fotografias que denotam laços de afeto
com o meio ambiente. Fotografias
impregnadas de um peculiar senso
estético e político. Insisto no político,
afinal, não podemos ficar apenas na
superfície da imagem. É necessário
aprofundar nosso olhar e perceber
outras camadas possíveis, nem sempre tão evidentes.
Suas fotografias parecem intensificar
uma relação de proximidade entre o
coração e a mente. Paixão e razão em
sintonia têm como resultado o pleno
domínio técnico adquirido ao longo
de seu percurso de trabalho. Esses
extremos de luz e cor, de sombras e
movimentos, de nuvens exuberantes,
estão presentes nas suas fotografias,
criando camadas de afetos e referências, consequência direta de vivências
e do permanente processo de aprendizado. Afinal, liberdade criativa é o
resultado de muita técnica e disciplina. Fotografia é emoção.
Araquém Alcântara viabiliza através
da fotografia sua individualidade e
sua espiritualidade. Apresenta uma
experiência evocativa e, ao mesmo
tempo, aventuras memoráveis. Uma
arte singular e visionária que desperta
nossa indignação diante daqueles que
evitam trazer a questão da preservação ambiental como uma política pública de Estado. Essa exposição deve
ser entendida como um alerta, um
grito indignado, pois diante de tanta
beleza devemos criar possibilidades
para melhor habitar e conviver nesse
mundo em constante devir.